sábado, 26 de junho de 2010

Os fantasmas escondidos no Cérebro!

Membro Fantasma ~

Seria alucinação? Coisa de outro mundo? Muito se pensou a respeito do membro fantasma. Vantojosas foram as evoluções técnicas, principalmente no que se refere a neuroimagem que permitiram com que pudessemos descobrir mais uma vez o quão surpreendente é o nosso cérebro. Membro fantasma é o membro que parece persistir nas pessoas que foram amputadas, onde elas podem obter sensações provenientes deles, mesmo eles estando completamente ausentes! Isso mesmo, au-sen-tes! Mas como isso seria possível? Antigamente os pacientes amputados se sentiam constrangidos em dizer tais sensações, bem como dores e coceiras com medo de uma interpretação de alucinação. O fato foi que com o passar do tempo, o membro fantasma foi sendo detectado em cerca de 85% daqueles que tinham sido amputados. Que mecanismos os circuitos cerebrais teriam para explicar todo esse mistério?

O nosso cérebro possui um mapa corporal, que funciona como se fosse um espelho de nosso ser físico. Esse nosso ser físico, é representado a todo momento pela aferência sensorial que nós temos de nós mesmos inseridos no mundo, isso é, de nossa percepção dentro do espaço. É através dessa percepção que o córtex constrói nosso próprio corpo. O nosso ser físico pode ser expresso normalmente pelo ser-hábito, isto é, podemos fazer de nosso físico certas funcionalidades/hábitos. Por exemplo, nossas mãos, podemos pegar objetos, fazer movimentos minuciosos e até linguagem se usa com elas! O fato é que nos acostumamos tanto com o nosso ser-hábito que quando o ser-físico é amputado, precisamos reconstruir a imagem que temos do nosso corpo!

A figura acima ilustra o famoso homúnculo somatotópico ou sensorial com as partes do córtex representativas de cada região. Notem que a parte da cabeça é muito desenvolvida, indicando alta sensibilidade/percepção pelo córtex.

Mas por que falar de homúnculo sensorial? Quando o braço por exemplo de uma pessoa é amputado, ocorre uma reorganização desse homúnculo (comprovado por neuroimagem). Dois motivos são dados como possíveis, mas nenhum deles ainda esclarecedores: Ou regiões adjacentes invadem a área sensorial perdida (no caso do braço, regiões vizinhas da face e ombro invadiriam a região) ou então há circuitos inativos que se conectam com outras regiões, mas que se ativam após a amputação.

Isso explica de certa forma por que pacientes com membros amputados sentiam coceiras e dores no membro amputado mesmo ele estando ausente. Quando se tocou o rosto de pacientes que tinham amputado o braço, eles sentiam o braço! A região do rosto havia se ocupado na região! E mais, podiam até sentir a dor que haviam sentido no membro amputado! Tudo isso prova que o verdadeiro fantasma estaria no próprio cérebro, através da reorganização desses circuitos neuronais.

Mas e as pessoas que usam prótese? Elas falam que sentem os pés delas ali, eles estão vivos! Porque outras regiões do corpo perto não se apoderam da região do homúnculo correspondente à área amputada? É porque a construção espacial que temos de nós mesmos no nosso corpo é modulada a cada instante, a cada tempo pelas aferências sensoriais que temos da gente. Se a pessoa vê o pé dela ali, com tênis e mexe quando ela quer mexer, aquele é o pé dela! É interessante notar como o cérebro percebe o seu corpo, de modo que aquilo que você acha que é seu corpo, será então seu corpo-somatotópico, seu corpo interpretado pelo cérebro.

Um experimento muito bobo que demonstra isso é a técnica de Ramachandran! Ele fez através de uma caixa de papelão e um espelho, que as pessoas não vissem seus membros e só vissem através do espelho, de modo que o membro ausente seria visto pelo cérebro no espelho, devido a inversão da imagem. E o incrível aconteceu: A maioria das pessoas não sentiam mais as dores de seu membro fantasma amputado! Incrível mostrar que a nossa percepção interfere muito na forma com que o córtex representa nosso corpo!! Somado a esse fato, estudos mostram que a terapia da "imaginação de movimentos" também funcionava para reduzir a dor fantasma que aparecia nos membros amputados (já que nem anestésicos, acupuntura, nada adiantava)! E mais ainda: O cérebro podia retonar com seus circuitos normais representativos do braço amputado mesmo tendo já essa parte preenchida por regiões adjacentes (informação retirada de estudos científicos). Fascinante a neuroplasticidade...

É como se o nosso cérebro precisasse do seu corpo ali no mundo, como se ele precisasse sentir parte dele! Se isso não ocorresse, todos esses fenômenos ocorreriam em resposta. Encerro o tópico parabenizando Ramachandran por todos os experimentos feitos que puderam proporcionar experimentos um pouco mais esclarecedores, mas que ainda tem muito a ser feito.

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